terça-feira, 22 de junho de 2010

“O que o aço e o plástico têm em comum?” – Íntegra do artigo publicado na revista Ferramental









A seguir, para facilitar a leitura, a íntegra de meu artigo (em parceria com o Engº Paulo Haddad, da Villares Metals S/A), publicado na revista Ferramental:


O QUE O AÇO E O PLÁSTICO TÊM EM COMUM?

Hoje, o plástico está presente em nossas vidas, de diversas formas. Podemos encontrá-lo em nossas casas, olhando para os eletrodomésticos e utensílios em geral ou lembrando que ele também está escondido entre as paredes, em forma de tubos e conexões, por exemplo. Além disso, marcam presença nas embalagens dos alimentos, dos produtos de higiene pessoal e de limpeza. Ao sairmos de casa, estão em nossos carros e nos demais meios de transporte. No local de trabalho, podem ser vistos em uma simples caneta ou até em um moderno computador. Poderíamos continuar apontando uma série de exemplos – quase intermináveis, se não acreditássemos que estes já seriam suficientes para ilustrar bem sua presença.

Pois bem, mas o que nem todos sabem, é que para chegar a forma através do qual o percebemos, precisou-se de um ferramental, ou molde, isto é, um artefato, geralmente em aço, que recebe a resina plástica em estado pastoso e dá a ela o contorno que queremos após, resfriada.

Logo, a cada novo modelo automotivo lançado - para citarmos apenas uma fatia da atividade produtiva - serão necessários dezenas de novos moldes com centenas de toneladas de aço em ferramental.

Cabe à indústria de moldes, desta maneira, movimentar e transformar este material, passando de simples matéria prima à recurso essencial. E, a natural complexidade da maioria dos moldes requer a aplicação de processos elaborados de usinagem, tratamentos térmicos e tratamentos de superfície, tudo isto interligando uma gigantesca cadeia de fornecimento.

Mas, se o aço está na gênese do artefato plástico, através do molde, e a relação umbilical entre ambos parece ser uma figura verdadeira, por que caminham (aço e plástico) sempre tão separados nas aspirações de crescimento, de seus respectivos setores?

Explicaremos melhor - como o segmento de transformação poderá ser competitivo se não houver uma indústria brasileira de moldes, igualmente forte? Ou, por outro ângulo, como a indústria ferramenteira poderá desejar fortalecer-se, não havendo para quem vender seus moldes? Tudo dependerá do mercado externo? Ora, estamos nos aproximando dos duzentos milhões de habitantes, com uma economia de razoável estabilidade e em ascensão. Nosso poder de compra crescente é observado - e desejado - por diversos investidores estrangeiros e vamos tomar a decisão de dar as costas ao nosso mercado interno?

Chamamos a atenção para a necessidade de ampliarmos o diálogo entre estes dois setores, em busca de sinergia. Afinal, por que é necessário conviver com uma balança comercial desfavorável, se podemos avançar muito, nesta questão?

A comunicação sempre foi um grande problema para a humanidade. Sobram ruídos, na mesma medida que faltam iniciativas. Cabe a indústria de transformação falar, apontar e registrar o que quer. E, cabe a indústria de moldes ouvir - de fato - seu cliente. Mas, nada impede que os ferramenteiros também falem e que os transformadores também ouçam.

Seja como for é preciso, sobretudo, manter contato, praticar o olho no olho. Em tempos de e-mails – que, aliás, poucos lêem - talvez ande faltando aperto de mão!

E, dessa forma buscarmos, todos, incansavelmente a excelência, para nos tornarmos mais competitivos frente aos desafios impostos pela globalização econômica.

Não se trata de apontarmos quem está certo ou errado, quem é o vilão ou o mocinho. Mas, de construirmos juntos, o melhor para o país, gerando oportunidades, novos empreendimentos e empregos, crescimento, fortalecimento econômico e distribuição de renda. Precisamos nos esforçar, se desejarmos deixar para as próximas gerações uma nova e melhor realidade. Com certeza sabemos que não há disposição para rasgar dinheiro, mas acreditamos que também devemos investi-lo através de tempo, cooperação e determinação se quisermos nos tornar cidadãos de uma grande nação.

O MDIC – Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, através da SDP – Secretaria do Desenvolvimento da Produção, coordena - desde 2000 - o Fórum da Competitividade da Cadeia Produtiva da Indústria de Transformação Plástica, uma ferramenta estratégica, importantíssima, inserida na política industrial do Estado brasileiro que, além de reunir transformadores e produtores de matéria prima, já indica entre suas metas, a necessidade do desenvolvimento da indústria de moldes.

É, portanto, uma iniciativa que poderia ser potencializada, estimulando e proporcionando uma participação mais ampla das ferramentarias nacionais no cenário econômico e que, certamente, daria mais fôlego ao próprio Fórum.

Esta atividade ferramenteira, uma vez consolidada, pode contribuir com o aumento da competitividade de toda a cadeia de plásticos, promovendo condições de igualdade entre nossa indústria e dos demais países, possibilitando ampliar a participação do setor no produto interno bruto (PIB) brasileiro, viabilizando a promoção de uma cultura exportadora de produtos de maior valor agregado e, conseqüente, elevando o superávit na balança comercial do país.

Contribuiria diretamente, ainda, com a capacidade de gerar, mais rapidamente, produtos inovadores, com a eliminação de custos em virtude de redução de gargalos logísticos e do aumento da qualidade final da peça injetada.

E, se não bastasse, colaboraria com o sucesso da indústria nacional de bens de capital, a partir da aquisição de novas máquinas (mais modernas e produtivas), tal como, com a redução da informalidade e geração de novos empregos. Qualificados, inclusive.

Sem dúvida, os detalhes são inúmeros, os obstáculos são imensos e sempre estamos ocupados demais, sempre o tempo é curto demais.

Ah, se o dia tivesse trinta e seis horas! Mas, não têm e não terá. O movimento de rotação do planeta terrestre, não permite que isso seja mudado. Bem, a não ser que haja um evento sobrenatural que altere este fato! Mas, não queremos pensar que seria mais fácil isso ocorrer, do que acertamos nossas agendas.

O aço e o plástico têm muito em comum mas, poderão ter ainda mais, se o setor produtivo, o Estado e a academia estiverem dispostos a tornar isto realidade.



* Wagner Aneas é professor, consultor e empresário. Pós-graduado em Ciências Sociais pela Escola Pós Graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP. Membro da Comissão Organizadora do MOLDES da ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (Coordenador das edições 2008/2009). Membro do Fórum da Competitividade da Cadeia do Plástico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Diretor da W.ANnex Consultoria e Representações. Atua, há mais de vinte anos, no segmento metal-mecânico.

* Paulo de Tarso Rossi Haddad é graduado em Engenharia Metalúrgica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Mestre em Engenharia Metalúrgica pelo Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (EPUSP), e MBA Executivo pela FDC. Atualmente é Supervisor de Assessoria Técnica da Villares Metals S.A. e professor da Faculdades Oswaldo Cruz. Membro da Comissão Organizadora do MOLDES da ABM - Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (Coordenador das edições 2008/2009).




Publicado na revista Ferramental
edição de maio-junho/2010 - nº 29 - pp 07 e 08
ISSN: 1981-240X
Editor: Christian Dihlmann.


Site: http://www.revistaferramental.com.br

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